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O Imperativo da Produtividade

  • Foto do escritor: Jonas Araújo
    Jonas Araújo
  • 29 de mar.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 30 de mar.

Alternativas possíveis na contemporaneidade.

Viver no mundo contemporâneo não é uma tarefa fácil. Estamos, a todo instante, recebendo diversos estímulos que afetam nossa mente e nosso corpo. Desde a infância, internalizamos tarefas para nos desenvolvermos e nos tornarmos adultos funcionais. É preciso estudar, especializar-se, trabalhar e conquistar o tão sonhado sucesso. São aspectos aos quais, de fato, precisamos estar atentos. Tudo isso é positivo e pode trazer bons resultados para nossa vida pessoal e para a comunidade na qual estamos inseridos.


Recife - 08 | 03 | 2015
Recife - 08 | 03 | 2015

Por outro lado, estamos vendo um número crescente de casos em que essa produtividade está nos adoecendo. Estamos cada vez mais deprimidos, ansiosos e cansados. É comum escutar, nos espaços clínicos, queixas relacionadas à fadiga, falta de energia, apatia e desânimo. Como sintomas individuais como esses podem se relacionar com fatores culturais? Essa é uma pergunta fundamental que precisamos fazer sempre que possível.


Não é surpreendente ouvir um comentário como: “Que desânimo é esse? Você precisa fazer alguma coisa, produzir algo, focar no seu trabalho!” Mas para onde vão nossos processos de elaboração do que estamos vivendo? Viver e sentir a vida é algo que leva tempo. Também exige investimento e esforço. E, até nisso, sentimos a pressão de sermos mais fortes, saudáveis, funcionais e bem resolvidos — pessoal, profissional e financeiramente. É como se não sobrassem espaço e tempo para nossas faltas, nossas pausas e nossos sentimentos. Muitas vezes, estamos correndo em busca de algo a mais sem nem saber exatamente o que estamos procurando. O adoecimento mental acaba se instalando, e os sintomas vão surgindo: burnout, crises de ansiedade e depressão. Nosso corpo nos alerta, e o adoecer nos obriga a mudar de direção — um freio necessário.


Penso que, se estamos adoecidos, precisamos de cuidado e descanso. Precisamos reconhecer que as dores psíquicas são tão significativas quanto as físicas. Dor é dor. Corpo e mente atuam em conjunto. Esse descanso da produtividade excessiva precisa se traduzir em momentos de reflexão, acolhimento e escuta. Quais ferramentas temos para lidar com nossas crises? Como está o espaço à nossa volta? Ele nos ajuda a descansar ou nos sobrecarrega? Quais relações pessoais mais nos estimulam? Quais atividades nos ajudam a nos reconectar? Essas são algumas perguntas que precisamos nos fazer para encontrar caminhos possíveis.


Não somos fortes o tempo inteiro, nem constantes. Muito menos máquinas. Esse respiro e o acolhimento de que precisamos em momentos difíceis podem ser encontrados a partir da aceitação de que não temos controle sobre tudo: na nossa rede de apoio — nossos familiares e amigos — e também com a ajuda especializada de profissionais capacitados.

Como diz o escritor Fernando Sabino, com muita sabedoria:

“De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que estamos sempre começando, a certeza de que é preciso continuar e a certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar. Fazer da interrupção um novo caminho, da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.”

O processo de lidar com uma sobrecarga de estresse e produtividade intensa é, muitas vezes, permeado por julgamentos que fazemos sobre nós mesmos e também pelos que nos são impostos. Permitir-se ao autocuidado é também fazer o luto do ideal que construímos de nós mesmos, reduzindo o ritmo com saúde para poder expandir melhor.


A ansiedade acusa um limite que está sendo ultrapassado. Ela nos desloca do momento presente e nos arrasta para o futuro ou para o passado, sobre os quais não temos controle. É no presente, em nosso próprio tempo, que encontramos a possibilidade de nos reinventar. Quais limites precisamos respeitar para que nossa identidade não se perca?


"A vida necessita de pausas." - Carlos Drummond de Andrade

sobre produtividade e outros temas.




 
 
 

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